AS MODERNINHAS PAG SEGURO

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mensalão por Paulo Ghiraldelli Jr.


Meus queridos leitores, li este artigo do nosso prezado Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e UFRRJ, ao qual usa de proposições válidas em seus pareceres acerca dos políticos, abaixo você poderá lê e se deseja conhecer mais sobre este intelectual do Brasil, pode acessar seu site:








"A verdade verdadeira sobre o mensalão

26/11/2012


 O grupo do PT que fez o mensalão foi condenado pelo STF. Mas seus integrantes ainda não estão presos. São condenados que, ao invés da cadeia, ganharam o direito de usar da sigla do partido para fazer comícios contra o STF. Isso não deveria ser permitido. Não há qualquer democracia nessa prática. Nem se trata de uma honrosa “desobediência civil”. Mas tem lá uma utilidade: falando o que estão falando, os criadores do mensalão estão contando para a nossa sociedade as verdadeiras intenções do delito. Aliás, quanto mais falam, mais clareiam o episódio de 2005. Eu explico.

Ao final de 2005 eu não fazia ideia, ainda, da verdade do mensalão, suas intenções e propósitos. Acompanhei tudo, cheguei a fazer um diário minucioso sobre o episódio, registrando as informações jornalísticas (e também de outras fontes) sobre tudo o que ocorreu naquele ano a respeito do mensalão. Além disso, também registrei minhas avaliações sobre cada parte do evento, mas terminei o ano sem ter nas mãos alguma coisa mais decisiva, algo que só hoje tenho. Só depois, principalmente nesses últimos meses, novos elementos surgiram ao meu dispor. Com isso pude montar uma melhor hipótese a respeito do ocorrido. Trata-se de uma hipótese bem razoável. Por isso, agora, posso colocá-la publicamente. A ideia é relativamente simples: o grupo que fez o mensalão, principalmente seu chefe, Zé Dirceu, não quis dar um golpe na democracia brasileira, ele quis apenas continuar o projeto que sempre teve dentro do PT: controlar não somente o partido, mas o próprio Lula. Antes que um golpe na democracia brasileira, o que se quis fazer foi um golpe interno visando o controle definitivo do PT.

Todos os que um dia tiveram alguma passagem pelo PT sabem o quanto Zé Dirceu e outros lutaram para ter Lula “na rédea curta”. Zé Dirceu sempre achou que esse prêmio, o controle de Lula, cabia a ele, e percebeu que de fato seria o premiado quando se tornou ministro. Na presidência, Lula deixava claro que não queria se envolver, ele próprio, com negociações desgastantes no Congresso. Ficou maravilhado quando percebeu que Zé Dirceu, o Militante Número 1 da tendência interna “Articulação” (uma tendência que nunca se desfez, e da qual Lula fazia parte), podia conseguir resultados estupendos nesse trabalho de confecção dos acordos políticos necessários ao governo dentro do Parlamento. Lula chegou então a dizer à imprensa algo que nunca saiu da minha cabeça, e que depois me serviu como prova lógica de sua inocência sobre o mensalão: “eu não sei o que o Zé faz lá no Congresso, mas ele acaba sempre conseguindo um acordo a favor do governo”. Lula disse isso, e o fez de modo a exibir orgulho de seu ministro que, enfim, mostrava ser melhor do que os do governo anterior. FHC não havia tido um ministro como Zé Dirceu, capaz de forjar consensos tão especiais no Congresso! Lula atribuía esse êxito de Zé Dirceu ao seu prestígio pessoal, de seu governo, mas também ao que passou a ver como uma nova habilidade de seu amigo militante. Lula jamais teria falado essa frase, chamando a atenção da imprensa para essa nova habilidade de Zé Dirceu, se ele próprio estivesse por debaixo do pano alimentando o Congresso com dinheiro. Seus adversários sempre levaram isso em conta. O próprio FHC soube assim interpretar os fatos e segurou seu partido quanto a ataques mais pesados sobre Lula: ao fim e ao cabo, um combate sério contra Lula levaria o PSDB a se expor por meio de Azeredo e seu mensalinho mineiro, sem qualquer sucesso, pois nada achariam de comprometedor nas mãos do próprio Lula.

O certo é que Zé Dirceu não conseguia as coisas que conseguia, obviamente, por conta de habilidade no jogo democrático-parlamentar, como Lula chegou a acreditar. Zé conseguia o que conseguia por meios de pequenas corrupções – que Lula sabia – e também por meio de uma jogada grandiosa – o mensalão – que Lula não sabia.

Com o mensalão, “o Zé”, como era conhecido no partido, começou a desenvolver a etapa final de um projeto que já vinha de anos, o de ter Lula não só como amigo, mas como um homem que estava em suas mãos, refém de sua habilidade como congressista negociador, o grande Ministro da Casa Civil, um misto grandioso de Golbery com Petrônio Portela, ungido por um currículo de “herói do combate à Ditadura Militar”. Para Zé Dirceu, isso era ser mais do que Presidente da República, era a glória máxima.

Zé Dirceu nunca teve qualquer projeto partidário que não fosse um projeto pessoal e vice versa. Dirceu nunca teve aquilo que chamamos de “vida pessoal”. Sempre teve vida política, de militante. A militância foi e é a sua vida. Deixar o Lula contente e ao mesmo tempo dependente foi o que ele sempre tentou, chefiando a “Tendência Articulação”. Com o mensalão, Zé Dirceu virou o negociador mor do governo no Congresso, ganhando novo prestígio diante do Presidente. A voz de Zé Dirceu passou a ser uma voz tão poderosa quanto a de Lula. Todavia, mais importante para ele, Zé Dirceu, é que sua voz começasse a aparecer para Lula como insubstituível. Zé passou uma vida fazendo oposição à Ditadura Militar, aprendeu a fazer política com o que viu no governo naquela época. Aprendeu demais com os adversários. A ideia de funcionar como quem teria Lula como algo como os generais do período militar, comandado por um núcleo partidário decisivo e não descartável, era tudo que Zé Dirceu entendia como sendo uma “política no governo”.

Lula foi pego de surpresa com o mensalão, revelado a ele por Roberto Jefferson. Caso soubesse de algo, teria segurado Roberto Jefferson quando este foi contar o que se passava realmente no Congresso. A coisa mais fácil do mundo era, naquela época, calar Roberto Jefferson. Lula teria segurado o escândalo de maneira muito fácil. Mas, uma vez pego de surpresa, sua reação não foi a melhor para o grupo de Zé Dirceu. Exposto de modo repentino ao julgamento da opinião pública, e vendo a possibilidade do PT se desmoronar, Lula foi para a TV completamente aturdido, e tentou explicar o que era inexplicável. Acreditou, então, que o melhor seria admitir a culpa do grupo do Zé Dirceu, e deixou os adversários deste punir os mensaleiros internamente. Tudo isso aconteceu muito rápido e não foi nada ensaiado. Só as pessoas cegas ideologicamente, ou de má fé, quiseram na época incriminar Lula, dizendo que ele era o arquiteto-chefe do mensalão. Não era. Caso fosse, tudo teria corrido de modo bem diferente. Roberto Jefferson nunca foi tão louco quanto deixou transparecer.
Mas até aí, dado a gravidade da situação, devemos avaliar que Lula não se saiu mal. Ele conseguiu ir para as ruas, correr o Brasil em campanha pela sua inocência, e ao mesmo tempo deixar as coisas nas boas mãos de Mantega, e terminou seu segundo mandato com uma excelente avaliação. Essa avaliação positiva da população em relação ao seu governo, junto com a eleição de Dilma, fez Lula sonhar mais alto do que podia. Ele passou a imaginar que podia apagar a história e recuperar o retrato social do “PT de antes”. Passou a dizer, de forma tresloucada, que iria provar que o mensalão não havia existido. Com o sucesso do momento, ficou nostálgico do tempo em que nada havia na imprensa que pudesse sujar a imagem do PT.  Ao eleger Dilma, uma desconhecida, e ao ver o povo diante de seu palanque – o que faz qualquer político perder a dimensão de seu real tamanho – Lula começou a acreditar ser dono de dotes divinos. Então, seria bem interessante ter a história reconstruída, segundo uma prática estalinista de recontar a história que nunca abandonou a esquerda. Por que não reconstruir a história de um PT sem a mancha do mensalão em seu passado? Foi o que tentou. Falou e fez mais do que podia e, talvez, mais do que devia – talvez!
Essa fala de Lula deu novo ânimo aos mensaleiros.

Eles passaram a acreditar que o STF não os condenaria. Conjecturaram que os juízes não enfrentariam “o prestígio de Lula”. E esse foi o segundo erro do grupo de Dirceu. Cutucaram a onça com vara curta, e o STF reagiu à altura – com Barbosa à frente – e iniciou um julgamento justo e rigoroso, apresentado na TV. O STF não teve outra saída senão julgar para valer o mensalão, de modo a não deixar dúvida de que apagar a história já seria demais para Lula. Ele não tinha esse direito, é claro, mas era necessário avisá-lo. Barbosa e o STF o avisaram. Creio que Lula, hoje, está arrependido de ter dito que iria provar que o mensalão jamais havia existido. Todavia, nunca sabemos ao certo, pois Lula às vezes faz o papel de Mr. Magoo: ele erra tudo e acerta. Talvez essa sua fala tenha despertado a militância mais fanática e imbecilizada do PT, e mesmo os mensaleiros, dando-lhes novo gás para as novas campanhas políticas que, enfim, se sucederam. Afinal, Lula queria mesmo era ganhar a eleição na prefeitura de São Paulo, porque ele quer o governo de São Paulo. Mas queria não com Marta Suplicy, e sim com sua nova cria: Haddad. Talvez essa sua capacidade de despertar a velha militância do PT, principalmente os mensaleiros, tenha dado ao seu candidato, Haddad, o que verdadeiramente deu, ou seja, um dinheiro de campanha jamais visto por qualquer outra agremiação política na história do Brasil em uma eleição para uma prefeitura.

Em resumo: o mensalão foi um projeto de Zé Dirceu e amigos não para golpear a democracia, mas para amarrar Lula definitivamente ao prestígio dos próprios mensaleiros no comando do partido. A disputa interna sempre foi a vida de Zé Dirceu. O arranhão na democracia? Ah, mero efeito colateral de um projeto que, para Dirceu, era maior – o projeto dele próprio, o projeto de ter o PT nas mãos. Ele adorava e adora isso.  Além do mais, o efeito colateral, contra a democracia, não importava muito. A palavra “democracia” sempre foi muito complicada na cabeça dos petistas. Em geral, os petistas são pessoas que, quando jovens, aprendem algo sobre o liberalismo, se é que aprendem, mas somente partir da crítica da vulgata marxista ao liberalismo. Nunca o PT foi, ao menos em mentalidade, efetivamente democrático. Francisco Weffort que o diga!

Com a reação de Dirceu tentando, ainda, controlar parte do PT que lhe sobrou, fica claro tudo isso. O que vale para ele, agora, não é não ir para a cadeia. O que vale para ele é não perder a única coisa que ele ama na vida: a organização partidária, ou parte dela. Todo mundo sabe que “é a vida do Zé isso”. Também é, agora, a vida de outros a ele agregados. É isso que ele tenta salvar agora, conclamando o PT a defendê-lo – como fez esses dias em ato público em Osasco. Poder falar que é uma “vítima das forças de direita” é tudo que ele mais quer. Ele até é capaz de se olhar no espelho e se ver como um herói que conduziu o PT para o seu destino. Qual destino? Ora, o destino dele próprio, Zé Dirceu. Ele é o PT em corpo e alma, ainda que Lula seja a locomotiva dessa organização que, mesmo com essa história maluca, foi bastante responsável – embora não sozinha – por vivermos no período mais democrático de nossa história, e talvez um dos períodos de maior bonança.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e UFRRJ

PS 1. Essa minha história não vai agradar os petistas, pois eles querem sonhar o sonho de Lula, onde o PT deslancha como herói incólume da “revolução brasileira”. Também não vai agradar a direita, que quer de todo modo destruir antes Lula que o PT, ligando-o ao mensalão de qualquer maneira. A direita tem uma forte tendência à corrupção e só consegue dormir se puder ver no Lula alguma coisa igual a ela. Mas Lula tem algo diferente da direita: ele sabe fazer política melhor, é mais esperto e, enfim, tem uma sorte que nenhum outro político brasileiro teve na história do Brasil. Essa minha narrativa busca traçar de modo o mais razoável possível a história dessa sorte.

PS 2: Dilma? Dilma tem de se afastar de tudo isso. Ela pode ficar para a história não só com a primeira mulher Presidente do Brasil, mas uma estadista de mão cheia, uma pessoa diferenciada no comando do país, algo próximo do papel que Barbosa vem fazendo no STF. Ela vai conseguir? Se deixar os petistas mensaleiros presos, sim, se insistir, como Lula quis, em sempre poder contar com os mensaleiros, talvez só tenha mais dor de cabeça."

Todo esse texto é de autoria de Paulo Ghiraldelli Jr, ao qual eu presto essa homenagem pelo trabalho que vem desenvolvendo em seu site, entre outros meios aos quais ele compartilha com todos.

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Ricardo Mimoso Fernandes dos Santos.

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